Como visto na cosmogonia egípcia, existiram diferentes mitos de criação ao longo da história egípcia. Esses mitos não podem ser encarados como formas contraditórias.
O que ocorre é que nas principais cidades havia grupos de sacerdotes que tentavam fazer com que seus deuses e mitos prevalecessem em todo o território. Por isso, ao longo da história, alguns deuses vão se destacando mais e em vários casos vão se fundido com divindades populares de outros períodos, como o exemplo de Ré (Ra), deus do sol.

Alguns mitos de criação foram muito populares entre a civilização egípcia. O primeiro vem da cidade de Heliópolis e inicialmente constituía um mito com nove deuses. Os egípcios diziam que no início do mundo nada existia além de um enorme oceano chamado Nun. Desse oceano surgiu Atum (a forma como ele surgiu varia de um mito para outro), que imediatamente fez Shu, deusa do ar, e Tefnut, o deus da umidade. Eles, por sua vez, fizeram Geb, deus da terra, e Nut, a deusa do céu. Geb e Nut eram os pais de Osíris, Set, Ísis e Néftis.
“Para os egípcios, o nascimento do mundo está estritamente ligado ao que eles têm diante dos olhos todos os dias: o vale do nilo. O Nun, oceano primitivo do qual emergiu a terra, lembra o rio Nilo no momento de sua cheia anual. A importância do Nilo é tão grande que os egípcios se orientam pelo sul, voltando-se para a nascente desse rio, pois ela representa o começo do mundo. Portanto, para um egípcio o leste fica a esquerda, e o oeste, à direita. O sol, por ser o primeiro deus da religião egípcia, origem da vida, também desempenha um papel especial. Segundo certos mitos, teria nascido de um ovo; segundo outros, originou-se de uma lótus. De qualquer maneira, o astro delimita o Universo, que, aliás é designado pela expressão “o que o sol encerra” […]”
(QUESNEL, 1993, p.2)
A Eneáde de Heliópolis foi um dos três mitos que surgiram durante o Império Antigo na tentativa de explicar o surgimento do mundo. Foi desenvolvida pelos sacerdotes de Ré. A fonte mais completa que existe sobre a Eneáde vem dos textos das pirâmides. Atum foi associado a Ré e essa fusão era explicada pelos sacerdotes como um adicional de poder a Atum. Os principais mitos envolvem a Enéade de Heliópolis e sem dúvida ela foi a mais popular em todo o antigo Egito.
Diferentes versões:
Feitiço de Benção das Oferendas ao Deus Criador Atum:
Esta declaração foi encontrada em Edfu. Nela, a mesa de jantar é identificada
com o Deus Criador Atum, e o Faraó com seu filho mais velho, Shu, que foi criado a partir de Sua saliva. Atum era visto como criador dos alimentos; o rei os oferecia de volta a Ele no altar e depois os consumia (uma prática conhecida como reversão de oferendas). A pessoa que profere as palavras está tomando o lugar do Faraó.
Este é um ritual ideal para abençoar a comida e bebida para o banquete pós-ritual. Para ser dito antes do início da refeição:
“Ó Deus da Mesa, Tu cuspiste Shu da Tua boca. Ó Deus da Mesa, que Ele Te dê tudo o que Ele tiver
dedicado, visto que Ele se tornou um Deus
que é uma emanação, alerta, venerável e poderoso. Que Ele Te dedique todas as coisas boas que Lhe deres, visto que Ele se tornou Heka. Que Ele Te dedique todas as coisas boas, oferendas de alimentos em abundância.
Que Ele as coloque diante de Ti e que Te contentes com elas, que Teu Espírito se contente com elas e que Teu Coração
se contente com elas para sempre.”
